Quando você tem algo em comum com um grande pintor
Não tinha a intenção de ficar focado na minha doença, mas percebi que nunca tinha escrito sobre ela e, pq não falar sobre uma vez que ela descarrilhou o jeito que tive que lidar com a minha semana (hoje ainda é quarta-feira)? Na loteria de cocô eu tirei a sorte grande, aos 30 anos tive meu primeiro AVC no trabalho, foi isquemico por isso consegui voltar pra casa dirigindo achando que se não fosse AVC eu só estava tendo um infarto. Digo o primeiro pq eu passei o mês seguinte tendo vários episódios, a isquemia é um bloqueio ou redução do fluxo sanguíneo em determinada área, sem sangue, falta oxigênio e nutrientes, e compromete a região, o que no meu caso foi no cérebro, na retina, no meu aparelho auditivo, quando você tem essa tríade a “melhor” hipótese é o que comumente as crianças chamam no recreio de Vasculopatia retinococleocerebral ou síndrome de Susac, uma doença ultra rara que tem pouco estudo e por isso não tem um CID próprio, arrisco a dizer que no Distrito Federal eu sou a única pessoa que tem, minha neurologista comentou que fora eu só tinha encontrado uma outra pessoa com Susac quando fez residencia em São Paulo. O que acontece depois que você tem uma doença desse tipo, ou qualquer outra que o Google não te dar respostas simples é que você começa a estudar um pouco de medicina pra entender mais sobre a sua doença. A parte mais afetada que eu tive (Susac chega a causar surdez) foi no meu cortex pré-frontal, o que comprometeu algumas das minhas funções como planejar coisas, conseguir ficar focado, ter maior empatia, ou me lembrar de certas coisas. Em certo sentido eu não tive sequelas aparente, uma vez que foi um AVC isquemico e não um hemorragico, mas não significa que não tive sequelas, elas só estão ocultas. Assim como a fisioterapia, eu tenho que continuar exercitando (demorei um pouco e tive que fazer uma pausa pra conseguir escrever a palavra exercitando) pois o cérebro é algo de uma plasticidade incrível, e eu consegui recuperar varias das lesões. A coisa tá controlada porém essa semana eu não consegui lidar com mudanças bruscas do dia a dia, e fiquei desorientado. Você primeiro começa a colocar culpa nas outras pessoas, depois no universo, depois no capitalismo, até chegar ao estagio de reconhecer que você tem uma dificuldade com isso devido ao seu novo modo de existência. Talvez minhas colheres tenham se esgotado para escrever, num próximo post eu conto um pouco mais, sobre a doença, grupos de pessoas com Susac, pertencimento, e Goya.